Artigo – Mercado Político: “Contratam-se líderes”, por Ighor Branco

By 18/04/2020 - 15:00BlogFalaPE

Em meio a crise gerada pela pandemia da Covid-19, a incerteza econômica é imperativa. Parcela da população aguarda o auxílio emergencial, enquanto outra se vê obrigada a negociar diretamente com os empregadores as respectivas condições de trabalho, e por conseguinte, de renda. A ameaça do desemprego é iminente, embora o governo federal demonstre avanço na assistência às empresas.

Dito isto, diante do quadro que se apresenta, chega a ser irracional pensar em criação de empregos no mercado, salvo exceções. No entanto, a política não segue a mesma lógica da economia.

No mundo político, envolto por narrativas e posicionamentos, as crises são como encubadoras de líderes. Ou pelo menos, é o que deveriam ser.

Um estadista, por definição de Houaiss, falecido pensador brasileiro e ex-ministro da cultura de Itamar Franco, é alguém versado nos princípios ou na arte de governar, ativamente envolvido em conduzir os negócios de um governo e em moldar a sua política.

É possível ir além da definição do autor. Um estadista nada mais é do que um líder que está disposto a tomar as rédeas e responsabilidades que a sua posição de figura pública/política necessita.

Nesse sentido, é fácil pensar em grandes personagens mundiais; em presidentes, primeiros ministros, governadores, ou em resumo, figuras emblemáticas da política macro.

A questão é que não são essas figuras que estão ao alcance mais direto da população. Não são essas figuras que cuidam dos postos de saúde, que distribuem cestas básicas ou que se pronunciam nas rádios locais.

Majoritariamente, problemas cotidianos e corriqueiros são atribuídos ao que é cotidiano e corriqueiro. Digo, é mais palpável ir até a prefeitura, a agência da Caixa (muitas vezes, única no município), ao posto de vacinação, ou a escola mais próxima. E, consequentemente, cobrar das autoridades locais às devidas soluções para os problemas que se apresentam.

Isso é dado. Porém, onde estão nossas lideranças locais? O que têm feito? É fácil responder ao olhar para as capitais do Brasil. Mas isto não corresponde nem de longe à totalidade do nosso país.

Nesse momento de crises, mais uma reemerge, a de representação política. Não se trata da necessidade de mais políticos ou figuras públicas. É a velha precisão de lideranças. Sejam estas plurais ou de caráter óbvio. Que já estão na mídia ou que devam ressurgir.

A questão central não é o que devam ser a priori, mas como devem agir.

Enquanto isso, a população clama por resoluções, nortes, ações.

As vagas estão abertas, aguardam-se candidatos, a absorção do “mercado” promete ser célere.

Por fim, cabe uma última reflexão: escolher não fazer nada, também é se posicionar, e o custo costuma ser alto.

Ighor Branco, Estudante de Ciência Política da UFPE e Analista de Dados no Instituto Conecta de Pesquisas.

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.